domingo, 29 de maio de 2011

evidências e reflexões sobre o que todos já sabem mas que muitos negam e outros dizem não ser bem assim

Para "acalmar" os mercados e promover a credibilidade junto deles viemos de PEC em PEC até ao memorando final.

Aqui chegados, nem os mercados acalmaram, nem a ajuda internacional é "serena".

Uma evidência, porém, é que aquela história do "não pagamos" foi atirada para cima do PCP e do BE, que apenas afirmaram a necessidade de renegociação da dívida o quanto antes e, precisamente, para não chegarmos ao ponto de ter de dizer "não pagamos".

(A ideia da reestruturação da dívida, aliás, já começou a ser ponderada pelos próprios Bancos, nomeadamente pelo Banco Alemão, o que, convenhamos, desacredita bastante quer os que desenharam o acordo, quer os que o assinaram quase de cruz.)

Entretanto, os três partidos (PS, PSD e CDS), que assinaram o acordo e que tanto se escandalizaram com o que diziam os outros dois partidos ("Quê? Renegociar a dívida?! Os senhores estão doidos! Isso é o mesmo que dizer que não pagamos!"), foram exactamente aqueles que o disseram, de forma implícita, que, em política e muito especialmente em negócios não convém ser-se explícito.

Não porque seja a sua vontade! Dou-lhes esse crédito. Mas porque é essa a situação a que vamos chegar, muito provavelmente em menos de um ano (a Grécia ainda aguentou um ano).

Mas eles assinaram o acordo e sabiam disso. Por sua vez, os senhores da tróica também sabem disso, ou são mais avessos às evidências do que o próprio sócrates! Então, não é legítimo que eu pense que a ideia desses senhores e de todos os apêndices deles é "comprar" Portugal ao preço da uva-mijona?

Basicamente, parece-me que este acordo segue os mesmíssimos trilhos que levaram à crise dos sub-prime, que, por sua vez, levou quase todo o mundo ocidental (e talvez não só) a sentir-se resvalar para uma situação de falência, além de ter levado muitas e muitas pessoas efectivamente à falência.

E, já agora...

Por enquanto, vemos um sócrates a dizer: "Estão a ver? Rejeitaram o PEC 4, obrigaram-me a pedir ajuda externa e, afinal, para quê, se o acordo com a tróica é igual ao PEC 4?"

Daqui a menos de um ano, quando nos estivermos a ver gregos (infelizmente esta expressão tem uma actualidade atroz), veremos um sócrates, dentro ou fora da Assembleia da República, como primeiro ministro (cenário tenebroso) ou não, dizer: "Estão a ver? Eu bem os avisei! Se não tivessem chumbado o PEC 4, que era muito melhor do que este acordo com a tróica, não estaríamos nesta situação."

2 comentários:

Vera Isabel disse...

Eu ouço estas coisas e nem sei o que pensar. Ou melhor, nem quero pensar, finjo que não é comigo.
Então... mas assinámos algo que não precisávamos? Então... e como está afinal este país? Será que até nos encontramos na mó de cima e não o sabemos?

lélé disse...

Eu sou como tu: também ouço e nem sei o que pensar, mas quero pensar. E penso que quem precisava essencialmente desta "ajudinha" eram os bancos... Não percebo nada de economia, é um facto e muito relevante. Mas vejamos: no princípio do ano, os banqueiros diziam ámen com o governo, FMI não obrigada, nem convém. Em Fevereiro/Março continuavam a dizer o mesmo, pouco mais ou menos. De repente, na alvorada de Abril: "não emprestamos mais dinheiro ao estado e pronto"
Perante isto, o governo, que só sabe usar cartão de crédito e não sabe o que é dinheiro a sério, foi pela única via que conhecia e conhece: pedir emprestado a para pagar os empréstimos. O zé-povo? Que se coce! Afinal é o único que sabe o que é dinheiro a sério!